Thursday 17 April 2014

Matando a galinha dos ovos de ouro

Nao restam duvidas quanto ao facto de que o sector do turismo desempenha um papel de capital importancia para a economia de Mocambique. E em qualquer economia, e um sector que se bem acarinhado, pode trazer enormes resultados economicos com um investimento relativamente menos oneroso. Tudo o que importa, em muitos casos, e apenas a propria natureza, com alguns apetrechos.
Mas apesar desse potencial que o turismo representa, foi triste assistir a uma reportagem num dos canais de televisao nacional em que se dizia que numa das regioes de maior atraccao turistica do pais, a provincia de Inhambane, o turismo estava a passar por um processo de irreversivel declineo.
Os factores que influenciam tal situacao podem ser varios. Sendo que talvez o mais importante de todos eles e a percepcao de inseguranca que reina sobre o pais junto dos principais mercados do sector no estrangeiro, muito em particular a Africa do Sul. Este pais e a maior fonte dos turistas que durante todo o ano escalam a regiao sul de Mocambique.
De facto, para tres das provincias mais ricas da Africa do Sul, nomeadamente Gauteng, Mpumalanga e Limpopo, o destino turistico de
praia mais proximo e a regiao sul de Mocambique, que para alem de Inhambane inclui as provincias de Maputo e Gaza.
Estas regioes nao estao necessariamente afectadas pela tensao militar que se vive em algumas partes do pais. Mas o turismo, menos oneroso que e em termos de investimentos, e uma area extremamente sensivel.
Nao se compadece com noticias de instabilidade no pais.
Mas o conflito que se regista no pais e apenas uma pequena parte da razao para a substancial reducao do fluxo de turistas. Ha outros factores.
Um deles e a forma como turistas que entram para o nosso pais por via terreste sao severamente molestados pela policia de transito, particularmente na Estrada Nacional Numero 1. Fazendo jus ao ditado que diz que “o cabrito come onde esta amarrado”, alguns (mas nao poucos) agentes da nossa policia de transito encontraram um modelo de negocio que lhes permite melhorar os magros rendimentos que auferem oficialmente pelo seu trabalho. E uma das formas e posicionarem-se na estrada, procurando identificar infraccoes que automobilistas possam eventualmente ter cometido. Mesmo que algumas delas sejam imaginarias.
Mesmo que as infraccoes sejam verdadeiras, elas nao sao tao dificeis de cometer numa estrada que rasga vilas e pequenos centros urbanos em cada 30 quilometros, obrigando o automobilista a ter que constantemente reduzir de velocidade para os 60 quilometros/hora obrigatorios para esses locais. E aqui onde como cogumelos em epoca chuvosa, os policias de transito se posicionam para apanhar as suas presas faceis.
Nao e muito facil para quem venha a uma velocidade de 120 quilometros/ hora, conseguir dominar o seu veiculo e controla-lo para atingir aquela velocidade obrigatoria num espaco de apenas algumas dezenas de metros. Nao que isto sirva de desculpa, mas e nestas circunstancias que os incautos caiem nas malhas dos policias de transito, com uma grande dose de extorsao pelo meio, sobretudo em relacao aos estrangeiros.
E verdade que mocambicanos que se deslocam a Africa do Sul sao tambem vitimas de compotamentos indecorosos por parte de agentes da policia daquele pais. Mas compete ao governo daquele pais limpar a sua casa, assim como compete ao nosso tornar o nosso pais o mais acolhedor possivel. Medidas de dente por dente, olho por olho, nao constroem boas relacoes entre povos.
Nao e so o mau comportamento dos nossos policias de transito o que afugenta os turistas. O precario estado da estrada de portagem entre Mocambique e a Africa do Sul, aliado aos congestionamentos que se verificam no percurso entre a Matola e Maputo, sao motivos suficientes
para dissuadir qualquer turista de se interessar por vir para Mocambique.
O sentimento de estar a pagar gato por lebre e repugnante para pessoas que levam meses a fazer poupancas para passar alguns momentos de lazer num pais que nao e o seu.
Estes assuntos nao sao umas pequenas trivialidades. Sao assuntos serios, sobre os quais as autoridades competentes devem dar um olhar um pouco mais serio, se com a actual situacao nao pretendemos matar a galinha que nos da os ovos de ouro.


Editorial do SAVANA

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