Thursday 3 July 2014

A guerra


O Dr. Brazão Mazula veio, há poucos dias, a público dizer que o país está em guerra e não numa situação político- militar ou qualquer outro dos eufemismos que são normalmente usados pelos arautos do poder. Posição que há muito defendo.
Numa altura em que se registam combates em Sofala, Tete e Zambézia, em que há mortos e feridos diários, não se pode negar que estamos em guerra, por muito que o executivo tente evitar ficar na História como o que conduziu o país a uma nova guerra depois de 21 anos de Paz. Uma guerra inútil e que teria sido facilmente evitada.
Também recentemente o comentador da Rádio Moçambique Amorim Bila tentou desvalorizar esta situação de guerra dizendo que os homens da Renamo apenas disparavam uns tiros e fugiam para o mato. Não defendiam posições fixas. Com essa afirmação mostrou ignorar, ou fingiu ignorar, os métodos mais básicos de uma guerra de guerrilha. O que pensa Amorim Bila que fez Alberto Chipande, no Chai, senão disparar uns tiros e fugir para o mato? E ainda hoje se fala disso.
E, em termos de defender posições fixas, não será a serra da Gorongosa, neste momento, uma posição fixa da Renamo? Uma posição que as forças governamentais tentam, há muitos meses, ocupar com pesadas baixas e sem sucesso?
Outro eufemismo usado, com o mesmo objectivo, é que é preciso “preservar a Paz”. Ora só se pode preservar uma coisa que existe. E, infelizmente, no nosso país já não existe Paz. O que há a fazer é restabelecer a Paz e, só depois, preservá-la.
Pareceu a todos nós que estávamos perto de restabelecer a Paz quando a Renamo decretou tréguas, há algum tempo. Só que, em vez de fazerem o mesmo, as forças governamentais aproveitaram para continuarem a bombardear a Gorongosa e a fazer tentativas de lá entrar militarmente. E isso provocou o reacender do conflito e novo derramamento de sangue de moçambicanos.
Será que quem anda a cantar louvores à Paz por todo o lado não pode dar ordens às forças de quem é Comandante em Chefe para ficarem quietas nas suas posições? Ou será que os militares têm uma agenda própria e já não obedecem ao Chefe de Estado?
Tudo isto é muito perturbador e, pior do que isso, é trágico. Ou por incapacidade de terminar com os combates ou por falta de vontade, a verdade é que se perdem, diariamente, vidas preciosas e insubstituíveis.
E, já agora, porque será que o Chefe de Estado fez as suas presidências abertas em Tete e Manica mas não foi a Sofala, ali mesmo ao lado?



Machado da Graça , Savana, 27-06-2014

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