Saturday 26 July 2014

Membros da Assembleia Municipal da Maganja da Costa sentam-se no chão por falta de cadeiras

 

Environmental Investigation Agency


Maputo (Canalmoz) – Um relatório divulgado na segunda-feira pela Agência de Investigação Ambiental  (EIA – Environmental Investigation Agency), com sede em Londres, revela que 93% da madeira extraída em 2013 em Moçambique foi ilegal, atingindo um nível “espantoso”. São, ao todo, cerca de 11.750 contentores de madeira que saíram do país de forma ilegal. As investigações conduzidas pela EIA entre 2013 e 2014 demonstram que o factor principal do crime florestal em Moçambique é a procura de madeira pela China. Segundo o estudo, 76% das exportações globais de Moçambique, em 2013, foram extraídas em excesso face ao registo de extracção de madeira, sendo ilegais. A maioria, uma média de 96%, de 2007 a 2013, foi para a China. Toda esta operação, tal como aquela agência provou no ano passado, foi feita com o apadrinhamento de dirigentes da Frelimo. Perante esta realidade, o Canalmoz traz um outro lado da mesma moeda, que se apresenta como consequência dessa actividade escandalosa.
Os membros da Assembleia Municipal da Maganja da Costa, no extremo oeste da província da Zambézia – que é um dos maiores produtores da madeira que é traficada para a China –, sentam-se no chão por falta de cadeiras. Tal como ilustra a imagem captada esta semana naquele ponto do país, os membros sentam-se no chão, ou ficam em pé durante as sessões.
A única entidade que tem direito a cadeira naquele órgão autárquico é o presidente da Assembleia Municipal.
Baptista Algumassa, membro da Assembleia Municipal, disse ao Canalmoz que, desde a criação daquele órgão, em Fevereiro deste ano, como corolário das eleições de Novembro passado, aquele organismo sempre funcionou naquelas condições: no chão ou em pé.
“Estamos a trabalhar nestas condições deploráveis desde a criação da Assembleia Municipal. A única pessoa que tem cadeira é o presidente”, disse.
Questionado pelo Canalmoz se havia garantias de aquisição de cadeiras, Algumassa disse que não há qualquer informação que aponte para o fim do martírio. Baptista Algumassa lamentou também o facto de toda esta situação estar a acontecer num país que é um dos maiores fornecedores de madeira em esquemas ilegais, com o envolvimento dos próprios dirigentes.
Não são só os membros da Assembleia Municipal as vítimas do saque. As maiores vítimas são milhares de alunos que fazem o ensino primário e secundário sentados no chão. Chegam a fazer 12 anos de estudo sentados no chão, num país que, só em 2013, exportou de forma ilegal 235.500 m3 de madeira.



Os lesa-pátria continuam impunes e andam de Mercedez com guarda-costas



Em finais de Janeiro de 2013, a agência de investigação ambiental britânica Environmental Investigation Agency publicou um extenso relatório de investigação com o título: “Conexões de primeira classe: contrabando, corte ilegal de madeira e corrupção em Moçambique”, no qual denunciava a exportação ilegal de madeira e com recurso a subfacturação por parte de empresas chinesas que operam na província da Cabo Delgado. Segundo o relatório, o actual ministro da Agricultura, José Pacheco, e um ex-ministro da Agricultura, Tomás Mandlate, facilitam a saída da madeira e recebem comissões dos chineses. Os investigadores chegaram até a participar numa reunião em que estavam lá chineses e o ex-ministro da Agricultura Tomás Mandlate, o qual – sem saber que estava a ser gravado pelos investigadores, que se fizeram passar por compradores de madeira corruptos – dava garantias de que tirar madeira do país não é problema, e que ele tratava de tudo. José Pacheco é tratado como “irmão” pelos chineses.
O resultado da investigação caiu como uma bomba em Maputo, e os dois dirigentes implicados não tiveram argumentos para contrapor às provas apresentadas pelos britânicos.
Mas no dia 18 de Junho deste ano a Procuradoria-Geral da República, através do Gabinete Central de Combate à Corrupção (GCCC), emitiu um comunicado a declarar José Pacheco e Tomás Mandlate como inocentes no tráfico de madeira para a China.



(Matias Guente, Canalmoz)
Photo: Membros da Assembleia Municipal da Maganja da Costa sentam-se no chão por falta de cadeiras (#canalmoz)

Environmental Investigation Agency

Maputo (Canalmoz) – Um relatório divulgado na segunda-feira pela Agência de Investigação Ambiental (EIA – Environmental Investigation Agency), com sede em Londres, revela que 93% da madeira extraída em 2013 em Moçambique foi ilegal, atingindo um nível “espantoso”. São, ao todo, cerca de 11.750 contentores de madeira que saíram do país de forma ilegal. As investigações conduzidas pela EIA entre 2013 e 2014 demonstram que o factor principal do crime florestal em Moçambique é a procura de madeira pela China. Segundo o estudo, 76% das exportações globais de Moçambique, em 2013, foram extraídas em excesso face ao registo de extracção de madeira, sendo ilegais. A maioria, uma média de 96%, de 2007 a 2013, foi para a China. Toda esta operação, tal como aquela agência provou no ano passado, foi feita com o apadrinhamento de dirigentes da Frelimo. Perante esta realidade, o Canalmoz traz um outro lado da mesma moeda, que se apresenta como consequência dessa actividade escandalosa.
Os membros da Assembleia Municipal da Maganja da Costa, no extremo oeste da província da Zambézia – que é um dos maiores produtores da madeira que é traficada para a China –, sentam-se no chão por falta de cadeiras. Tal como ilustra a imagem captada esta semana naquele ponto do país, os membros sentam-se no chão, ou ficam em pé durante as sessões.
A única entidade que tem direito a cadeira naquele órgão autárquico é o presidente da Assembleia Municipal. 
Baptista Algumassa, membro da Assembleia Municipal, disse ao Canalmoz que, desde a criação daquele órgão, em Fevereiro deste ano, como corolário das eleições de Novembro passado, aquele organismo sempre funcionou naquelas condições: no chão ou em pé.
“Estamos a trabalhar nestas condições deploráveis desde a criação da Assembleia Municipal. A única pessoa que tem cadeira é o presidente”, disse.
Questionado pelo Canalmoz se havia garantias de aquisição de cadeiras, Algumassa disse que não há qualquer informação que aponte para o fim do martírio. Baptista Algumassa lamentou também o facto de toda esta situação estar a acontecer num país que é um dos maiores fornecedores de madeira em esquemas ilegais, com o envolvimento dos próprios dirigentes.
Não são só os membros da Assembleia Municipal as vítimas do saque. As maiores vítimas são milhares de alunos que fazem o ensino primário e secundário sentados no chão. Chegam a fazer 12 anos de estudo sentados no chão, num país que, só em 2013, exportou de forma ilegal 235.500 m3 de madeira. 

Os lesa-pátria continuam impunes e andam de Mercedez com guarda-costas

Em finais de Janeiro de 2013, a agência de investigação ambiental britânica Environmental Investigation Agency publicou um extenso relatório de investigação com o título: “Conexões de primeira classe: contrabando, corte ilegal de madeira e corrupção em Moçambique”, no qual denunciava a exportação ilegal de madeira e com recurso a subfacturação por parte de empresas chinesas que operam na província da Cabo Delgado. Segundo o relatório, o actual ministro da Agricultura, José Pacheco, e um ex-ministro da Agricultura, Tomás Mandlate, facilitam a saída da madeira e recebem comissões dos chineses. Os investigadores chegaram até a participar numa reunião em que estavam lá chineses e o ex-ministro da Agricultura Tomás Mandlate, o qual – sem saber que estava a ser gravado pelos investigadores, que se fizeram passar por compradores de madeira corruptos – dava garantias de que tirar madeira do país não é problema, e que ele tratava de tudo. José Pacheco é tratado como “irmão” pelos chineses.
O resultado da investigação caiu como uma bomba em Maputo, e os dois dirigentes implicados não tiveram argumentos para contrapor às provas apresentadas pelos britânicos.
Mas no dia 18 de Junho deste ano a Procuradoria-Geral da República, através do Gabinete Central de Combate à Corrupção (GCCC), emitiu um comunicado a declarar José Pacheco e Tomás Mandlate como inocentes no tráfico de madeira para a China. (Matias Guente)


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