Tuesday 22 July 2014

O egoísmo das elites



Pode ser que, com a idade, as pessoas percam alguma faculdade de perceber as coisas, as atitudes, os processos.
E se calhar é isso mesmo o que está a acontecer comigo. Por exemplo, em relação à Educação no nosso país. Pois, sou do tempo em que perder um dia de aulas era um problema, e uma semana uma autêntica tragédia. Hoje, e se calhar por causa da tal perda de discernimento associada à idade, não dei conta que os coeficientes de inteligência dos moçambicanos evoluíram significativamente.
Ligo a televisão, leio os jornais, viajo pelo país, e algo me parece menos correcto quando vejo adolescentes e jovens mais ocupados com actividades políticas do que, propriamente, com aquilo que de mais importante deveriam estar a fazer: estudar, estudar, estudar!
O que digo e acho estranho nem sequer se pode dizer que o faça por mera especulação. Está à vista e ouvidos de toda a sociedade moçambicana.
Adolescentes e jovens ou se apinham nos aeroportos para receber esta ou aquela entidade, ou animam e dão cor aos comícios, quando não se entulham nos hotéis para participarem de seminários ou conferências disto ou daquilo, imitando os adultos.
E eu não deixo de pensar e de perguntar-me, sem deixar, porém, de recear o teor das respostas: que propósito se esconde por detrás desta alienação, deste desviar dos adolescentes e da juventude da aprendizagem?
E não é sem fundamento que faço esta pergunta. Na verdade, os adolescentes e jovens desviados da sua tarefa fundamental não são filhos das elites, políticas ou económicas. Os filhos destas estão nos colégios ou no estrangeiro, onde em nenhuma circunstância são desviados para servirem expedientes políticos.
É a estes, pois, que se lhes reserva o futuro, e não àqueles. Ora, isso é inaceitável.
 
Luís Loforte, Correio da manhã, 21/07/2014

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