Friday 12 September 2014

Dhlakama diz que Nyusi quer dar continuidade à pobreza, à exclusão e à guerra


 E diz que quer um debate frente a frente com os outros candidatos, mas receia que o candidato da Frelimo (como sempre) possa fugir


O presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, anunciou, na tarde de quinta-feira em conferência de imprensa em Maputo, o início oficial da sua campanha eleitoral na próxima quarta-feira em Nampula. Antes, deverá visitar Chimoio, para um encontro com os membros, simpatizantes e apoiantes da Renamo e com a população em geral.
O candidato da Renamo aproveitou também a ocasião para entrar no debate sobre a continuidade da agenda de Guebuza, que Nyusi pretende levar avante, como tem frisado. Dhlakama diz que Nyusi quer dar continuidade a uma agenda de pobreza e de exclusão. “Ele diz ser candidato da continuidade e as pessoas devem votar nele para dar continuidade. Eu pergunto: ‘Continuidade de quê? Da pobreza? Continuidade da exclusão social, da guerra, da falta de habitação, da falta de transporte e outros males que hoje o povo vive?’”
Sobre a sua campanha, confirmou que vai iniciá-la na próxima terça-feira. “Vou iniciar a campanha na terça-feira em contacto com a população em Chimoio, e na quarta-feira estarei em Nampula, e seguidamente em Quelimane”, disse o presidente e candidato da Renamo nessa conferência de imprensa, em que estiveram presentes alguns observadores internacionais das eleições gerais e provinciais deste ano.
Antes do encontro com jornalistas, que serviu para “agradecer-lhes pelo trabalho que fizeram durante o tempo que duraram os confrontos militares entre o Governo da Frelimo e a Renamo”, Afonso Dhlakama esteve num encontro, seguido de um almoço, com representantes diplomáticos dos países da União Africana acreditados em Maputo.
Afonso Dhlakama disse não acreditar que possa vir a ter uma campanha complicada. “Não creio que vá ser uma campanha complicada” declarou, afirmando, por outro lado, que “em política não se despreza os adversários”.
Questionado sobre a avaliação que fazia face à participação do MDM nestas eleições, Dhlakama disse que o surgimento de muitas forças políticas no país é fruto da democracia pela qual lutou e continua a lutar.
“Não gostaria de falar de outros partidos, mas, porque estão a perguntar, eu vou dizer que gostaria que o MDM, como uma força com oito assentos na Assembleia da República, aumentasse o número dos seus deputados pelo menos para uns doze ou mais”, respondeu, e acrescentou: “Não posso dizer que vamos enfrentar o MDM, porque o nosso adversário, neste momento, é a Frelimo, como partido histórico”.
Prometeu que, em caso de vitória eleitoral, ele e o seu partido vão melhorar o sector da saúde, da educação e outras áreas sociais que “hoje não estão a ser priorizados pelo Governo da Frelimo”.



Debate aberto com outros candidatos


O presidente da Renamo disse que deseja um debate aberto com os outros candidatos presidenciais destas eleições.
“Aceito um debate político aberto com os outros candidatos. Mas alguns, como sempre, não aceitam debater as ideias. Se aceitassem, eu queria bater tudo” declarou, acrescentando: “Mas uma coisa fique clara, se o Nyusi continuar assim, vai terminar no zero”.
Apelou à imprensa para tratar todos os concorrentes por igual durante esta campanha. Disse que é optimista, que o país vai mudar, e salientou: “Até pequenos partidos concorrentes apresentam nas suas campanhas um discurso de mudança e de inclusão tal como eu e a Renamo sempre defendemos”.
Afonso Dhlakama referiu que, comparativamente ao período em que esteve na capital do país, de 1992 a 2009, a sua imagem, pelo menos em Maputo, mudou muito, pela positiva.
“Digo que valeu a pena a nossa luta, tirando o lado negativo que qualquer luta sempre tem. Hoje, os que tinham todo o tipo de receio de serem conotados com o partido que dirijo aproximam-se do Dhlakama, aproximam-se da Renamo e dizem ‘papá Dhlakama’ sem nenhum receio”. E Afonso Dhlakama perguntou, em changana: “A hi lepswo?” (“Não é isso?”).
Prometeu que, no seu Governo, ninguém será obrigado a ser membro do partido e que “os intelectuais e académicos não serão nacionalizados, como faz hoje a Frelimo”. Explicou que cada um será chamado a dar as suas ideias na área em que for especializado e “ninguém será obrigado ou transformado forçosamente em político”.
Dhlakama considera que este crescimento também se nota nos órgãos da comunicação social, a avaliar pela forma como os jornalistas trataram com isenção todos os acontecimentos ocorridos no terreno, demonstrando maturidade.
“Não digo que vocês estiveram ao lado da Renamo. Mas apoiaram e simpatizaram com a situação, colocando perante o povo os acontecimentos tal como ocorriam”, afirmou o presidente da Renamo, revelando: “Sei como alguns de vocês tinham medo e receios, de 1992 a 2009, de perderem os vossos empregos, se falassem a verdade”.
Sobre o Fundo de Reconciliação, Integração Social e Paz, Afonso Dhlakma disse não ter compreendido ainda bem, mas que, pelas explicações que lhe foram dadas pelo Presidente da República, tudo indica que o mesmo vai beneficiar tanto desmobilizados da Renamo como do Governo, através de oportunidades de emprego e de negócios.
“Este fundo não vai distribuir dinheiro. O que vai acontecer é, através do mesmo, serem criadas algumas empresas onde serão integrados os desmobilizados proveniente de ambas as partes”, explicou apelando para que os países parceiros apoiem o fundo, uma vez que, segundo diz, pensa que “o Governo não terá capacidade financeira suficiente para levar avante o mesmo”.
“Mas a iniciativa, se for levada a sério, é boa, aqui no nosso país, onde ocorre pela primeira vez”, concluiu.


(Bernardo Álvaro, Canalmoz)

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