Wednesday 1 October 2014

Eleições 2014: Um candidato omnipresente, outro messiânico e violência marcam mês de campanha

O primeiro mês de 45 dias de campanha para as eleições gerais em Moçambique mostrou a massificação do candidato do partido no poder, o renascimento do líder da oposição, assim como actos de violência e intolerância.



"Começou por ser pacífica mas mudou muito", comentou à Lusa António Francisco, economista e investigador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESE), referindo-se à "tensão lamentável" entre membros da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) e do MDM (Movimento Democrático de Moçambique, terceira força) durante a campanha para eleições presidenciais, legislativas e para as assembleias provinciais do dia 15 de Outubro.
António Francisco vê nas esperas que a Frelimo fez à caravana do líder do MDM em Gaza e nas confrontações provocadas pela simulação de uma urna com a imagem do candidato do partido no poder em Nampula sinais de que "a violência está na rua".
Apesar dos incidentes, ocorridos na terceira semana da campanha iniciada a 31 de Agosto, o comentador político Tomás Vieira Mário entende que o processo " tem corrido razoavelmente bem, atendendo a que as eleições gerais (presidenciais, legislativas e assembleias provinciais) de 15 de Outubro "seguem-se a um conflito que quase colocou o país em chamas".
"Esta é a eleição mais difícil para Moçambique", sustentou o comentador regular no canal televisivo privado STV, argumentando que as primeiras eleições multipartidárias aconteceram em 1994, dois anos depois do fim da guerra civil e do Acordo de Paz celebrado entre o Governo e a Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), e que a próxima votação realiza-se menos de dois meses após os mesmos protagonistas cessarem novas hostilidades.
A violência, observou, acabou por "chamar a atenção das lideranças políticas para se dissociarem dessas situações", alertando porém que "os apelos para a calma têm de valer em todo o processo, inclusive nos momentos de maior nervosismo", como o anúncio dos resultados.
A campanha está a ser também marcada pelo "bombardeamento da imagem do candidato presidencial da Frelimo, Filipe Nyusi, quase omnipresente na propaganda do partido no poder em todo o país, e que, para António Francisco, "até pode estar a torná-lo conhecido mas que também começar a ficar incomodativo".
Segundo o investigador, além da aposta num candidato quase desconhecido na sucessão ao actual Presidente, Armando Guebuza, a Frelimo enfrenta também um precedente aberto pelas autárquicas realizadas há um ano, em que o MDM conquistou três dos maiores municípios, e que acentuou "um desgaste criado pelas suas atitudes"
Para Tomás Vieira Mário, este desgaste "é natural", ao fim de 40 anos no Governo, "em que sempre se adaptou a cada momento histórico no país e no mundo, mas chega uma altura em que fica difícil e pode ser isso que o eleitorado esteja a pedir".
Além da força crescente do MDM, o líder da Renamo saiu do refúgio na Gorongosa, onde se manteve durante o recente conflito, e ressurgiu em força já com a campanha em marcha.
Este aparecimento pode ter sido tardio, "mas, do ponto de vista da disseminação da sua mensagem, Dhlakama esteve sempre presente justamente devido ao conflito", disse o comentador político, lembrando que "as suas ideias andaram constantemente no ar, porque eram discutidas nas reuniões de diálogo com o Governo, altamente mediatizadas".
António Francisco destacou, por sua vez, que o eleitorado até podia ter sido afastado pelo conflito que Dhlakama protagonizou ao longo de mais de um ano e meio, "no entanto, acabou por ter uma recepção espantosa".
"Ele perdeu Claramente grande parte do eleitorado nas duas eleições anteriores, agora volta com esta pose messiânica e, se conseguir recuperar os dois milhões que desapareceram, isso muda tudo", comentou.
As eleições gerais "estão bastante renhidas e os resultados são algo imprevisíveis", disse ainda o investigador do IESE, face ao que se passou há cinco anos, quando "não havia grandes dúvidas".
A mobilização da Renamo e a influência crescente do MDM fazem antever mudanças, prevê por seu lado Tomás Vieira Mário, e que vão não só alterar a natureza bipartidária" da política nacional como criar um parlamento mais equilibrado.

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