Tuesday 11 November 2014

Teimosia e relutância aceleram Primavera Africana?



 De maneira diferente mas inexorável


Quando se pensava que a avalanche de rebeliões e revoltas tinham terminado, depois da famosa Primavera Árabe, só se deve admitir que isso era falso.
Os políticos e governantes africanos, acostumados a impor obediência e cumprimento escrupuloso das suas ordens, características dos tempos de partido único, estão sendo confrontados com uma realidade completamente diferente.
Não é questão só para árabes, europeus e americanos. Os africanos aprenderam a exigir e a reclamar. Os seus direitos começam a ganhar relevo na sua vida.
Pode ser quase imperceptível, mas há manifestações populares em Luanda e Maputo, alguma coisa está no ar e de consequências desconhecidas.
Neste momento, em Moçambique, vive-se uma incerteza quanto ao seu futuro político, decorrente de um processo eleitoral ensombrado por irregularidades graves. A fraude e a manipulação orquestradas por sectores afectos ao partido no poder deram lugar a uma vitória que já está sendo contestada pela oposição e largos segmentos da população.
Há um sentimento generalizado de repulsa e de indignação face ao ocorrido.
Se antes tudo ficava pela reclamação inconsequente, agora existe um entendimento de que não é possível tolerar.
Saídas airosas procuram-se, mas os políticos mostram-se indecisos quanto ao caminho a seguir.
Uma oposição política que se considera vencedora, e de maneira documentada foi vencedora no passado, não tem mais espaço de manobra, se quiser ser tida como adulta, consequente e séria.
Numa situação em que se misturam tendências e sentimentos divisionistas e questões étnico-políticas, assimetrias regionais visíveis, uma concentração de riquezas nas mãos de uns poucos, a explosão de um barril de pólvora que todos sabemos existir.
A arrogância tradicional de um partido com passado totalitarista concorre para exasperar tudo e todos. As fissuras e clivagens no seio da Frelimo ainda não são suficientes para acalmar os ânimos.
Existe consciência de que os orgãos eleitorais e os de Justiça não farão nada que desagrade aos que os nomearam e promovem.
Então, que teremos nos próximos tempos?
GUN, GDG, GT, indicando unidade nacional, de gestão e transição, são fórmulas que poderão resolver problemas, mas também causar outros. Toda uma máquina partidária habituada a “mamar” do Governo vai ter que sobreviver de quotas dos seus membros. Uma miríade de funcionários partidarizados mas sem competência comprovada não vai querer abdicar de tantos benefícios recolhidos ao longo dos anos.
Vamos ter problemas de gestão de uma crise que se avizinha... Terão os nossos governantes e política capacidade de aproveitar a ocasião que existe para catalisar desenvolvimentos pacificadores e estabilizadores? Tenho sérias dúvidas de que o apego ao poder e a prepotência prevalecentes e a máquina montada no Governo e nos orgãos de administração da Justiça se renderão à nova realidade.
Gente que se habituou a um poder discricionário dificilmente aceitará um novo figurino do poder.
Temos a sorte de ter simultaneamente um processo negocial no Centro de Conferências “Joaquim Chissano”, que tem, pelo menos, o condão de manter os potenciais beligerantes próximos e dialogando.
Urge ter canais abertos de comunicação entre os líderes políticos, e que se deixem as ilusões de lado.
Há clima e ambiente para se iniciarem vigorosas negociações com vista a acordar termos de formação de forças armadas e policiais republicanas. Transformar o momento de desilusão eleitoral em defesa da paz e dos direitos dos moçambicanos.
Mas temos de ser minimamente realistas e antever momentos de tensão e indecisão.
O clube dos ditadores de África sente no ar e cheira o fim dos seus reinados. Não é só a idade dos titulares de cargos presidenciais que está em causa. É evidente que o modelo que advogavam e defendiam falhou.
Os seus partidos de suporte, clientelistas e organizados em volta de chefes muito egocêntricos, estão de malas aviadas, quer se queira ou não.


(Noé Nhantumbo, Canalmoz)

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