Tuesday 10 March 2015

Centenas de pessoas na despedida de Gilles Cistac em Maputo clamam por justiça

Maputo, 10 mar (Lusa) - Centenas de pessoas, maioritariamente da comunidade académica de Maputo, despediram-se hoje do constitucionalista moçambicano de origem francesa, Gilles Cistac, assassinado há uma semana, com várias intervenções clamando pela responsabilização criminal dos autores do homicídio.
Durante o velório, realizado no Centro Cultural da Universidade Eduardo Mondlane, familiares, incluindo os pais que vieram de propósito de França para a cerimónia, magistrados, docentes universitários, advogados e estudantes foram prestar a sua última homenagem ao "Professor", como era afetuosamente tratado o académico.
A cerimónia, para a qual alguns presentes trajaram 't-shirts' com a inscrição "Je suis Cistac" ou "Cistac vive" sobre a foto do constitucionalista, também estiveram presentes destacados representantes de organizações da sociedade civil e dirigentes dos partidos políticos da oposição, incluindo o líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro maior partido moçambicano, Daviz Simango.
Como em todas as manifestações públicas de repúdio pela morte do académico, notou-se a ausência no velório da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), partido no poder.
Num discurso lido por um representante da família, o pai do constitucionalista, Jacques Cistac manifestou "desgosto e ódio" pela morte do filho, realçando que o académico se bateu pela justiça.
"O meu filho era obstinado, íntegro e tenaz. Dedicou-se à vida, ao Direito e à Justiça. Será que estas palavras têm sentido, valeram o preço da sua vida", questionou Jacques Cistac, expressando "desgosto e ódio" pela morte.
Por seu turno, o bastonário da Ordem dos Advogados de Moçambique, Tomás Timbane, disse que o Direito moçambicano ficou mais pobre com a morte de Gilles Cistac, exigindo a responsabilização criminal dos autores do homicídio.
"Até quando o Estado tolerará a intolerância pela livre expressão de pensamento", questionou Tomás Timbane, para quem "não é razoável pensar-se que Cistac não morreu pelo exercício da sua liberdade de expressão".
Alda Salomão, que falou no velório em nome das organizações da sociedade civil, afirmou que a morte de Gilles Cistac é uma forma de silenciar o livre pensamento e a liberdade de expressão em Moçambique.
"Os que estão contra a liberdade encontraram no terror das armas uma forma de tentarem silenciar os moçambicanos livres. Exigimos o máximo de integridade e celeridade nas investigações, para que este crime não acabe como outros que ficaram sem esclarecimento", afirmou Alda Salomão.
Gilles Cistac, conhecido por defender teses jurídicas muitas vezes desfavoráveis à Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), partido no poder, foi assassinado a tiro na terça-feira da semana passada por desconhecidos, à saída de um café no centro de Maputo.
Na semana anterior ao assassínio, o académico anunciara que ia apresentar uma queixa contra um homem que se identificava na rede social Facebook pelo pseudónimo de Calado Kalashnikov e que acusou Cistac de ser um espião francês e de ter obtido a nacionalidade moçambicana de forma fraudulenta.
O funeral de Gilles Cistac vai realizar-se na próxima quinta-feira na sua terra natal, Toulouse, em França.



Lusa

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