Sunday 8 March 2015

Líder parlamentar da Renamo sugere que Frelimo evite o pior em Moçambique



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Maputo, 07 mar (Lusa) - A líder parlamentar da Renamo, principal partido de oposição em Moçambique, sugeriu hoje à bancada maioritária da Frelimo na Assembleia da República que aprove o projeto da criação de regiões autónomas, como forma de evitar o pior no país.
"Essa é uma forma clara de evitar o pior", declarou à Lusa Ivone Soares, considerando que se a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) "quiser que em Moçambique haja realmente estabilidade, vai aprovar a proposta da Renamo [Resistência Nacional Moçambicana]".
O presidente do maior partido de oposição, Afonso Dhlakama, admitiu, num comício na semana passada no norte do país, abdicar da aprovação das regiões autónomas no parlamento e impô-las pela força, avisando que tem meios para o conseguir.
Dhlakama envolveu também "radicais da Frelimo" no assassínio do constitucionalista moçambicano de origem francesa Gilles Cistac, na terça-feira no centro de Maputo, e cujas posições jurídicas estavam a ser usadas pela Renamo na sua exigência de criação de regiões autónomas no centro e norte do país.
"O presidente da Renamo entende que, se a Frelimo continuar a intimidar o povo, assassinando pessoas de bem e que acham que pela via legal há cobertura legal para a Renamo criar regiões autónomas, podemos até ignorar a submissão do projeto na Assembleia da República e tomarmos o poder à força", afirmou hoje Ivone Soares, à margem de uma marcha em memória de Cistac e que acabou por ser interrompida por uma força policial de elite.
A líder parlamentar da Renamo ressalvou que o seu partido continua a trabalhar no projeto para se encontrar "uma solução pela via pacífica", não se comprometendo com uma data para a apresentação do documento na Assembleia, embora garanta que será em breve.
A Renamo contesta os resultados das eleições gerais de 15 de outubro, alegando que foram fraudulentos, e propõe-se governar, através da criação de regiões autónomas, nas províncias em que oficialmente ganhou.
O novo Presidente da República, Filipe Nyusi, avistou-se duas vezes com Dhlakama para discutir a proposta, convidando a Renamo a submetê-la ao parlamento, dominado pela Frelimo, que já sinalizou um provável chumbo do documento.
"Não podemos continuar a colocar as populações do centro e norte reféns das decisões políticas de meia dúzia de dirigentes da Frelimo que vivem no sul", defendeu hoje Ivone Soares, insistindo que "as instituições do Estado estão a trabalhar com pessoas não reconhecidas pelo povo, porque não foram legitimadas através do voto".
Segundo a líder da bancada da Renamo, "existe uma assimetria regional clara em Moçambique há 40 anos", em que "o centro e norte produzem e toda riqueza vem beneficiar meia dúzia de barrigudos do sul do país".
O homicídio de Cistac "acontece num momento sensível" e "agudizou o clima de tensão em moçambique", afirmou a deputada, e indica também que "o pensamento autónomo está ser acorrentado" e que "o crime domina a posição das instituições".
"Depois de terem matado [o jornalista] Carlos Cardoso, em 2000, pensávamos que tínhamos ultrapassado as barreiras contra a liberdade de expressão e de imprensa", assinalou Ivone Soares, que conclui, 15 anos mais tarde, "existirem ainda pessoas que acham que matando se silenciam as vozes que lutam e clamam pela justiça".


Lusa

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