Wednesday 13 May 2015

A pior decisão

 
 
Na minha opinião não podia ter sido pior.
Refiro-me, é claro, ao chumbo pela bancada do partido Frelimo na Assembleia da República da proposta da Renamo.
Pior e, diga-se, surpreendente.
Não me teria surpreendido se isto tivesse acontecido nos dias nefastos do guebuzismo. Era a regra do jogo, trombeteada pelos 40 faladores alugados nas trombetas públicas do costume: À Renamo só se cede quando ela nos tem uma faca apontada à garganta.
De Filipe Nyusi eu (e creio que uma alta percentagem de moçambicanos) esperava mais e, sobretudo, diferente.
Para seguir uma política igual à dele não tinha valido a pena tirar o nosso concidadão, criador de patos, do poleiro. Ou será que a mudança foi apenas para manter a mesma política mas mudar os beneficiaries principais dela?
Isto no caso de continuar a haver beneficiários desse tipo de política...
A argumentação utilizada no Parlamento para chumbar a proposta foi, exactamente, nos moldes dos “sôres dótores” do G40: legalismo barato, constitucionalismo de pacotilha e nenhuma atenção aos factores políticos determinantes da questão.
Ninguém deu atenção ao facto de que aquela proposta era uma tentativa de desanuviar a tensão no país passando uma esponja sobre a fraude eleitoral. Com a mesma pesporrência com que se debitou capítulos e artigos, também se tentou, mais uma vez, varrer a fraude eleitoral para debaixo do tapete.
E Filipe Nyusi, agora Presidente do Partido Frelimo, não se pode eximir da sua responsabilidade em relação às posições da bancada do seu partido. Que não venha falar de separação de poderes e outras coisas do género.
Concluo, portanto, que uma parte determinante da direcção do partido Frelimo continua a apostar na confrontação militar para tentar ultrapassar a crise.
Tal como aconteceu antes do ataque a Satunjira, há comandos militares do governo que acreditam que, com mais armamento, vão varrer a Renamo. E o Parlamento acaba de lhes dar mais dinheiro para comprar armamento (a propósito, quem é que está a receber luvas desses contratos de compra de armamento?).
Eu, que já ando por este mundo há umas largas dezenas de anos, estou convencido que não. Desde que me conheço as forças de guerrilha sempre venceram as forças convencionais. Desde que tenham apoio popular. E a Renamo, no centro e norte do país tem.
Os comandos militares do governo foram, na maioria, antigos guerrilheiros e acreditam que, com as mesmas tácticas e melhores meios, a vitória é certa. Só que, agora, eles são as forças convencionais e a guerrilha está do outro lado. Uma guerrilha com experiência e determinação.
Dhlakama deu ao governo/Frelimo dois meses para mudarem de posição. Não sei se ele, e nós, não estamos a correr um grave risco com isso. Pelo que me apercebo, entre os generais da Renamo a impaciência por resultados está já em ponto de ebulição.
Não sei se aguenta mais dois meses sem afastar Dhlakama e seguir um caudilho militar qualquer para uma guerra sem regras.
E se uma guerra Renamo/governo, com Dhlakama à frente da Renamo, me assusta muito, uma tal guerra, sem Dhlakama à frente da Renamo, assusta-me muitíssimo mais...
Mas parece que este tipo de preocupações não passa pela dita casa do povo. Lá é para votar o que o chefe manda e aguardar as mordomias daí resultantes.
Obviamente, A LUTA CONTINUA!



Machado da Graça, SAVANA, 08-05-2015

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