Tuesday 5 May 2015

Não há fumo sem fogo

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 A rejeição liminar, pela Frelimo, da proposta da Renamo de criação de províncias autárquicas, deixa uma nuvem de fumo na sociedade moçambicana. A nuvem de fumo acoberta os planos seguintes da Renamo e da Frelimo, para oferecerem à sociedade o desfecho para a crise política pós-eleitoral, sem que o chumbo da proposta traga consigo alguma solução.
 A nuvem de fumo é também o sentimento de incerteza quanto ao que virá a seguir, dada a ilusão criada pelos dois encontros Nyusi/Dhlakama. A nuvem de fumo esconde certamente alguma desilusão do líder da Renamo, que, na declaração final do segundo encontro, afirmou que, se a bancada parlamentar reprovar a proposta da Renamo, a Frelimo não conseguirá governar, e que não gostaria de ver o “meu irmão Nyusi cair”.
É essa a realidade do país. Está tudo sob uma cortina espessa de fumo.
 O parlamento aprovou o Orçamento Geral do Estado, que remete uma grande fracção do bolo para a defesa e segurança, numa altura em que vemos nuvens escuras a pairarem pelo ar.
 Os discursos mais recentes do Presidente da República são reveladores de que se atolou atrás da cortina de fumo, e, no que é evidente, o homem que há três meses dizia que na sua cabeça só cabe a paz veio afirmar que não iria ajoelhar-se perante um moçambicano para pedir a pacificação do país.
 Está-se numa clara rota de colisão. Em cem dias, Nyusi, que se tornou o senhor absoluto de Moçambique e da Frelimo, lança-nos para a incerteza, para o cimo das nuvens de fumo.
 Em vez de desanuviar a tensão, claramente, podemos extrair sinais. Onde há fumo, não falta o fogo.
 Parece-nos que a bancada da Frelimo, de quem se esperava não uma rejeição liminar, mas uma colaboração na reformulação da proposta, nomeadamente nos pontos em que a mesma continha eventuais vícios ou incongruência, escolheu atear o fogo, no lugar de abrandar camadas de fumo que temos visto desde Outubro do ano passado. O Nyusi, que se escuda afirmando tratar-se de uma decisão autónoma da bancada maioritária, mostra-nos faltar-lhe alguma autonomia e genica para tomar posições em momentos cruciais como estes.
 Dizem que já há escaramuças no Guijá. A imprensa ainda não o confirmou. Nunca há fumo sem fogo. Quando o fogo se tornar visível e se alastra pelo país, não sabemos se podemos contar com Nyusi como bombeiro, pois ele mostra-nos sinais de irredutibilidade, nada diferente do seu antecessor.
 É preciso que alguém dissipe as nuvens que acobertam o fogo miúdo, antes que seja tarde. Antes que que se busquem subterfúgios, antes que se busquem os culpados, como o disse o presidente cessante: era por causa dos jornalistas que o país estava a arder.
 Ao nível do diálogo político, todas as portas estão fechadas, por os encontros há muito não conferirem resultados.
 Espero estar errado.
 E mais não digo.




(Adelino Timóteo, Canalmoz)

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