Sunday 28 June 2015

Diagnósticos já efectuados devem dar lugar a celeridade negocial

 

Celebrar o “Junho da Independência” com resultados definitivos.

 O consenso parcial alcançado quanto à despartidarização do aparelho de Estado é um bom indicador sobre as possibilidades de avanços concretos nas outras matérias em discussão.
É possível eliminar as barreiras impostas por interesses estranhos à verdadeira agenda nacional.
Há que encontrar uma forma de pressão contínua para que as negociações conheçam novos rumos.
Importa lembrar que Moçambique não pode continuar refém de quem se julga seu proprietário com exclusividade. O país não pode ficar amarrado aos sonhos inarráveis de pessoas que continuam julgando-se superioras e bafejadas de poderes especiais. Moçambique e os moçambicanos precisam de ultrapassar as barreiras artificiais criadas por políticos medíocres e falsários.
Há que cortar caminho aos que teimam em viver num passado nostálgico, em presidiam ao “circo” e iam de banquete em banquete exibindo a sua “superioridade nata”.
Encontrar as razões do insucesso negocial não é tão difícil: onde não há honestidade negocial e respeito pelos direitos dos outros, a concórdia tarda, e quase sempre se falha.
As alegações antigas de falta de experiência e de conhecimentos para a condução dos assuntos do Estado não tem suporte nos dias de hoje.
Vivemos uma conjuntura diferente que necessita de posicionamentos à altura.
É contraproducente “rezar missas” de enaltecimento de actos heróicos inverificáveis. A ofensiva mediática exibida na Rádio Moçambique e nas estações televisivas para preencher a semana comemorativa da Independência Nacional peca por não aproveitar o momento para incluir os outros.
Avançar com rigor na procura de soluções definitivas para a crise política requer que os políticos se situem e actuem com responsabilidade que ultrapassa egos.
Não se pode esquecer o tempo que passou nem o que foi feito por este ou aquele. Só com respeito e abertura de “dossiers” “proibidos” se pode colocar Moçambique no caminho da reconciliação real e efectiva.
O formalismo negocial e as posições dos interlocutores não devem esquecer que há envolventes e considerações básicas para que acordos sejam alcançados.
Trazer a público sempre os mesmos articulistas e “mensageiros” repetindo o refrão de sempre soa cansativo, mas de utilidade nula.
Os moçambicanos estão cansados de impasses e da falta de acordo sobre o que sabem ter sido mal implementado.
Com alguma dose de realismo e honestidade, o país não estaria a braços com a actual crise. Há potentados acinzentados e alguns já fossilizados que não conseguem aprender que no passado foram marionetas de interesses externos. Fogem da verdade histórica como o “diabo da cruz” e teimam em apresentar uma imagem de pureza que ninguém tem.
Política é um processo permanente que se apresenta com sinuosidades permanentes. Saber lidar com as variações inevitáveis e delas apreender os factores que fortificam a moçambicanidade é mais importante do que “glória” e heroicidade que se pretenda apresentar ao povo moçambicano.
Campanhas de distribuição de estátuas pelo território nacional não trouxeram mais “unidade nacional” nem reconhecimento extra para com as figuras homenageadas. Aquele mecanicismo político executado à custa do erário público escasso foi uma iniciativa tardia e não inclusiva. Enquanto antigos combatentes vivos se batem com problemas de reformas que não se regularizam é grotesco avançar com iniciativas dessa natureza.
Existe uma miscelânea de assuntos e “dossiers” que têm de ser tratados em simultâneo e com rigor.
Somos Moçambique a partir de 25 de Junho de 1975, mas ainda persiste a visão de que o país pertence mais a uns do que a outros.
É assim que se tem visto governantes a tomarem decisões vinculativas sem consulta nem aprovação do parlamento.
Não há tempo para mais demoras e para acertos de “pontos e de vírgulas” sobre um assunto sobejamente conhecido.
O Governo de Moçambique e a Renamo bem como todos os outros partidos políticos com assento parlamentar e extraparlamentares devem assumir a sua responsabilidade histórica de reverter quadros e situações.
Reacender a “Chama da Unidade” é de um simbolismo importante, mas também desconexo, se não houver convergência de atitudes e de posturas.
Quem governa deve cingir-se à prioridade e os políticos bem como os parlamentares devem actuar segundo prioridades e programas com efeitos e impactos desejados por toda uma sociedade.
Agora o que importa e é urgente são os pontos na mesa no Centro de Conferências “Joaquim Chissano”.
Há sentimentos e pontos de vista divergentes devido a dúvidas quanto ao tratamento que merecerão alguns “dossiers” do passado. Há receios de que, se forças armadas republicanas forem instauradas, deixará de haver segurança para alguns dignitários. Suspeita-se de que uma PRM ao serviço da República possa actuar contra actos consubstanciando crimes cometidos no passado. Com ou sem comissão da verdade e reconciliação é necessário encontrar uma fórmula para sossegar em definitivo essas pessoas, porque isso está influindo negativamente no processo negocial e na construção da moçambicanidade.
Nivelar o campo de actuação de todos, normalizar e moralizar a acção governativa relevam-se de importância vital para o progresso do país.
Basta de fingimentos e de tratamento cosmético dos “dossiers” críticos do país.
Queremos um Governo que recupere a verdadeira república de Moçambique e não um Governo-comissariado político atabalhoadamente caminhando para onde supostas cabeças pensantes e todo-poderosas o indiquem.
A inclusão e a participação dos moçambicanos na solução dos seus problemas devem ser pensadas e tidas como factores primordiais para o sucesso tanto negocial como da implementação de uma agenda governamental que ultrapasse as vantagens dos titulares de cargos ministeriais e seus familiares.
Como tem sido mostrado pela imprensa ou comunicação social, temos graves problemas de conflitos de interesses entre o público e privado.
Não haverá sucesso tangível e de impacto permanente se não houver coragem de separar os poderes democráticos e imprimir seriedade nos assuntos do Estado.
Não podemos ser uma república das bananas nem de “copy/paste” ao sabor de agendas que são essencialmente individuais/privadas em que pontificam governantes-empresários gerindo o país como coisa privada.
Exige-se acordo final sólido e blindado num cometimento sem margem nem espaço para malabarismos.




(Noé Nhantumbo, Canalmoz)

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