Monday 29 June 2015

Vitórias eleitorais podem ser “arrancadas” mas a heroicidade não

Multiplicam-se as trombetas proclamando feitos esfumados.

A toda velocidade e utilizando todos os meios ao seu dispor e os disponibilizados pelos especialistas em fazer “lobbies”, assistimos a autênticas fugas para a frente por pessoas que querem assegurar o seu lugar ao Sol e, quem sabe?, na cripta dos heróis.
Não se importam se é repetição ou uma nova criação a ser adicionada à cartilha do comissariado político. Não desarmam nem desistem de “vender banha-da-cobra a todo um povo”. Multiplicam-se actores de uma “peça de teatro” que os moçambicanos se recusam a pagar bilhete para ver.
Os moçambicanos estão sedentos da verdade. Uma verdade que sossegue os seus espíritos e almas. Uma verdade que traga para a superfície factos do passado que tiveram impactos muito poderosos nas suas vidas. Exageros e actos megalómanos foram praticados com uma frieza desumana, ceifando vidas de maneira completamente desnecessária.
Quem vira o disco e toca o mesmo revela esgotamento de ideias bem como carência grave de argumentos.
As palavras-de-ordem do passado, que antes pareciam surtir efeitos, faliram, pois os moçambicanos recebiam-nas por medo da repressão que recaía sobre quem se manifestasse contrário ao seu conteúdo. A delação característica do Estado policial ruiu, pois os moçambicanos jamais aceitaram a visão propalada de “homem novo” que envolvia lavagem cerebral e aceitação de uma bagagem ideológica mecanicamente imposta. Nem os grupos de vigilância e os dinamizadores conseguiram fazer recuar os anseios de milhões de moçambicanos que se viram de repente relegados à posição de cidadãos menores face aos mestres e mentores omniscientes e todo-poderosos.
Aquilo que se pretendia, uma revolução, não vingou porque os receptores das ideias se negaram a engolir sopas de ingredientes desconhecidos. Também para dizer a verdade, o que queriam estabelecer era uma ditadura de um grupo restrito de pessoas arvoradas em sabedoras e proprietárias únicas da verdade.
Comunistas livrescos e socialistas de pacotilha desceram de Norte a Sul trazendo uma lufada de ar fresco que só durou o tempo de celebrar a Independência com euforia característica e merecida. Todos queríamos a Independência, mas também queríamos opinião sobre as nossas vidas, o que o novo regime dos comissários e do departamento de informação e propaganda prontamente negou.
Não há como negar que Moçambique vive um período de grande interesse quanto ao enraizamento de uma cultura política que aponta a democratização como meta última.
Sente-se que os partidos políticos cimentam o seu envolvimento na vida política e que a sociedade civil desponta e desmembra-se de influências paternalistas.
Há porem partidos políticos que desonram o seu nome, porque os seus líderes estão metidos em “golpadas estomacais”. Dançam ao som do batuque, comendo maçaroca, numa clara demonstração de mercenários políticos. São aquela oposição que jamais será construtiva, porque se recusa a criticar e a combater pela verdade eleitoral e por transformações estruturantes dos poderes democráticos no país.
25 de Junho de 2015, deposições de coroas de flores, comícios e manifestações culturais preenchem o dia num processo que já vimos durante quarenta anos.
É uma oportunidade de alterar o quadro comemorativo através de debates e reflexões pragmáticas. É tempo de abandonar o folclore político, os dogmas e discursos baratos, rotos e sem substancia que galvanize rotinas. É tempo de subir a faísca nacional e de comprometimento com causas.
Quem gosta de Moçambique e do seu povo, quem jurou defender a Constituição, respeitar e fazer respeitar as leis do país protege o que ama. Quem ama Moçambique actua contra o corte desenfreado de árvores e protege a costa marítima e as montanhas.
Recebemos o país com uma biodiversidade invejável e já somos obrigados a importar animais selvagens, porque estão extintos dos nossos parques nacionais. Cientistas de todo o mundo defendem medidas urgentes para travar a desertificação e as consequências das mudanças climáticas, mas, da parte do Governo de Moçambique e dos partidos políticos não se observam sinais de preocupação sobre este assunto crítico que já se faz sentir entre nós.
Há letargia e apetência em ficar esperando por iniciativas de organizações governamentais estrangeiras e por elas financiadas, porque se adivinham desse lado fundos que podem ser subtraídos para bolsos privados. A academia nacional e as universidades nacionais tornaram-se em centros de produção de imitadores que não conseguem trazer “inputs” de qualidade para a governação e para a economia nacional.
São quarenta anos em que também houve sucessos, e esses devem ser mencionados. Possuímos um Estado moçambicano e isso é resultado da heroicidade de todo um povo.
Há razões para comemorar, mas sem embandeirar em arco, pois o trabalho e desafios existentes são enormes. A sua complexidade é considerável e vai exigir trabalho, talento, dedicação, empenho, criatividade e liderança comprometida com as aspirações de milhões de moçambicanos que vivem com dignidade ferida.
O momento que se vive é exigente, sem contemplações para com aqueles que vegetam na mediocridade da “política da barriga”.
Décadas de lambebotismo e de relações promíscuas e por vezes politicamente incestuosas produziram uma “vara” de “quadros” porcos como os porcos.
Houve uma agenda de manutenção do poder baseada na proliferação de quadros obedientes no aparelho de Estado desenvolvendo. Gente disciplinada e prestativa que alinhou na “confecção” de resultados eleitorais falseados em favor do regime do dia. É preciso denunciar as “vitórias retumbantes” do passado, mesmo que já seja tarde para que fique registado nos anais da história nacional que a batota, embora tenha resultado em mandatos presidenciais e parlamentares, foi detectada.
Moçambique cresce cada vez que os seus cidadãos se libertem das amarras da mentira oficial ou oficiosa.
Há tarefas urgentes que devem merecer a atenção das lideranças nacionais e uma delas é a realização de um diagnóstico urgente ao sector de comunicação social público. Não se pode continuar a ignorar os danos e golpes que a comunicação social pública desfere aos legítimos interesses nacionais através de linhas editoriais controladas e determinadas em corredores partidários.
Os esforços pela despartidarização do aparelho de Estado devem fazer-se sentir em todo o aparelho de Estado, e deve enterrar-se a cínica posição de que confiança política é determinante para a nomeação de directores e chefes na função pública e empresas públicas.
Endeusar chefes cantando-lhes hossanas é culto da personalidade embrutecedor que produz cidadãos instrumentalizados.
A “Batalha por Moçambique” prossegue e conta com a participação de todos os seus filhos.
De pensadores a artesãos, todos são chamados a dizer e a fazer deste país o seu orgulho hoje e amanhã.




(Noé Nhantumbo, Canalmoz)

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